quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Artigos - Como eu jogo com... Portugueses Feudais

Como eu Jogo com... Portugueses Feudais
(lista 12, Livro 2)

O exército Português Feudal (a designação para o Feudal Spanish pintado com as cores usadas do lado certo da fronteira) não é um ganhador nato.
É um exército irregular, na verdadeira acepção da palavra. Mas, a menos que aconteça um cocktail de falta de PIPs, dados catastróficos na altura dos combates e incompetência do jogador (vozes ao fundo: "a única coisa garantida!"), também não é propriamente uma pêra doce para os adversários. É relativamente versátil, e desde que a escolha da composição do exército seja acertada, pode sair-se airosamente mesmo em terreno pouco apropriado para cavalaria.
Como prefiro o período mais tardio da lista, o orgulho do exército são os Kn (S), capazes de enfrentar e derrubar tudo quanto ande sobre duas ou quatro patas. Ou quase tudo: são alérgicos a paquidermes e devem evitar contactos imediatos de terceiro grau com bípedes habituados a manusear grandes paus, como piques ou arcos longos. No entanto, a melhor maneira de ganhar uma batalha é não deixar sequer os Kn participar nela. Todos aqueles que já passaram a ferro o meu exército, pelo menos uma vez na vida, ainda devem ter sobre as suas lareiras um ou outro elmo de um Kn português feudal! Em contrapartida, alguns dos que levaram uma ensaboadela à antiga portuguesa devem estar vagamente recordados de uma colorida linha de cavaleiros nobres, ou de mais sóbrios frades das ordens militares, observando de um local mais ou menos distante o desempenho da cavalaria ligeira ou da ralé apeada, saltando sobre os flancos dos desgraçados que ousaram importunar a hoste de D. Sancho II, levando na onda um ou outro general mais incauto.
Mas como nem sempre é possível manter os Kn inactivos, em especial os que não estão sob o controlo directo do Comandante-em-Chefe, a fidalguia deve começar a peleja o mais à retaguarda que for possível e, sobretudo, sem quaisquer elementos amigos à frente a não ser escaramuçadores a pé. Fala a experiência: há sempre uma ocasião em que os ingratos Kn nos dispensam, nós que pacientemente os adquirimos, colámos e pintámos, e resolvem avançar por sua conta e risco, colocando-nos numa posição deveras embaraçosa. Por isso, se tiverem que o fazer, que o façam sobre o alvo certo, a direito e de preferência em grupo. É que às vezes a carga pode ser tão necessária como decisiva, mas não se deve exigir dos Kn coisas muito complicadas como, por exemplo, saber fazer algo mais do que seguir em frente a toda a velocidade! Regra geral, quando os Kn se engalfinham com o inimigo é para dar o golpe de misericórdia, ou então a situação está mesmo crítica...
A verdadeira arma letal do exército é menos espampanante do que os Kn. Trata-se da cavalaria ligeira, relativamente numerosa e bastante eficaz. Mesmo jogando habitualmente com 3 comandos, há sempre LH de sobra nos flancos, e ainda no centro para controlar inimigos velozes ou com ideias pré-concebidas a respeito da impetuosidade dos Kn e da melhor maneira de a precipitar. Se os LH forem bem sucedidos num flanco, o trabalho dos Kn fica mais facilitado, ou nem sequer chega a ser necessário. O lema é: "Os ginetes surpreendem os que se embasbacam a olhar para tantos fidalgos juntos". Mas é preciso alguma cautela, em especial com congéneres asiáticos que se dão ares de superiores.
Eficazes são também os escaramuçadores a pé, que vêm sob a forma de Ps (O) ou, em conjuntos mais numerosos e baratos, Ps (I). Não importa realmente o que trazem, venábulos, arcos, bestas ou fundas. Vasculham o terreno difícil e mesmo em campo aberto se portam bem, desde que misturados com outros tipos de tropa, porque normalmente ninguém lhes liga nenhuma até os sentirem agarrados à garganta ou a outra parte sensível. Encontram-se normalmente distribuídos pelos vários comandos e, ao contrário dos LH, a perda de dois ou três destes elementos raramente compromete o resto. Além disso, dão imenso gozo quando ocasionalmente lidam com Golias cheios de lata em cima e os vencem. Há campónios no meu exército cuja choupana está alindada por objectos pessoais rapinados a inimigos mais imponentes que nem tiveram tempo para dizer "uuups".
Depois há as tropas que só são recrutadas quando há mesmo trabalho para elas, como os peões venabulários Ax (S) e os besteiros Bw (O). Experiências mal sucedidas com Bw (I) levaram-me a pôr de parte, definitivamente, besteiros pitosgas e com pele sensível. Outros cujos números flutuam em função do que o adversário tem para lhes opôr são os cavaleiros-vilãos, Cv (O) que, em abono da verdade, às vezes não valem o que comem em pontos. Os jogadores mais distraídos ou com a paranóia da linha de cavaleiros medievais tomam-nos à distância por fidalgos (embora os vilãos tenham mais piolhos do que os nobres), o que é divertido mas não acrescenta qualquer vantagem na hora da verdade. O habitat natural das espécies acima mencionadas são os flancos do exército, embora os cavaleiros-vilãos possam ocasionalmente ser encontrados no centro.
E ainda há aqueles que são sempre obrigados a comparecer e que passam a vida a cuidar da bagagem, os peões armados de lança e escudo, vulgo Sp (I). São os sornas do exército, e a sua especialidade é precisamente não entrarem em confusões e deixarem a guerra para os outros. Por fim, dedico este artigo a todos os elementos do meu exército que desapareceram da mesa de jogo vitimados por tácticas impossíveis de concretizar por irregulares, e que ainda assim marcharam para o seu destino, ignorantes, mas garbosos. Aos que conseguiram disfarçar a inépcia do jogador e contribuir com o seu sacrifício para a vitória no jogo, o meu sincero obrigado.

Jorge Freitas

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