sexta-feira, 25 de março de 2011

Artigos - Fazer Moldes Próprios (parte 3)

Preparação da borracha

Neste momento já podemos começar a pensar em vazar a borracha de silicone. Antes de mais é muito importante saber a quantidade de borracha que vão empregar. Duas razões: a borracha é relativamente cara, de modo que é de evitar desperdício, e é necessário rigor na medição do catalizador da borracha, senão temos asneira.
Mas a coisa é simples. Basta medir as distâncias interiores do molde, mais uma espessura de uns 15mm, e já sabem a quantidade de borracha que necessitam.
Por exemplo, se o molde tem (por dentro) 46mm de base e 63 mm mm de altura (medidas hipotéticas), temos um volume de (4.6 x 6.3 x 1.5) = 43.47 cm3, arredondemos para 45 cm3.
Até aqui tudo bem. Agora precisamos de medir esta quantidade para o recipiente onde vamos fazer a mistura com o catalizador. Para já temos que lá meter 45 cm3 de borracha.
Se tivermos um copo de laboratório graduado, óptimo. Senão, o que eu costumo usar são recipientes de rolos fotográficos (cilíndricos). É simples: conhecendo a área da base (quadrado da metade do diâmetro, vezes Pi, exemplo para um copo de 30mm de diâmetro 1.5x1.5x3.14 = 7cm2) basta dividir o volume necessário pela área da base (no mesmo exemplo, 45cm3 / 7cm2 = 6.4cm). De forma que só temos que fazer uma marca nos 6.4cm de altura do copo, e verter MUITO cuidadosamente a borracha lá para dentro.
Eu não verto directamente a borracha da sua lata para o copo, uso uma colher de plástico para transferir. É menos arriscado, e tem-se uma medição mais correcta.
Então já temos o copo com borracha na quantidade certa. Agora temos que lhe adicionar o catalizador. Aqui precisamos de uma seringa graduada (em vidro, de preferência) com uns 2 a 5 cm3. Preparem-se para arranjar uma justificação boa para a comprarem na farmácia, senão vão todos parar à clínica de reabilitação.
Este catalizador é aplicado na quantidade indicada pelo fabricante (3% a 5% do volume, habitualmente) e misturado integralmente - a mistura tem que ser muito bem homogénea, de modo que preparem-se para ter paciência.
Como é evidente,  devem certificar-se das precauções de segurança indicadas pelo fabricante.

Vazamento

Em seguida podemos começar a vazar a borracha para dentro do molde. O maior perigo a evitar aqui é a acumulação de bolhas de ar junto da figura, o que implica um molde inutilizado. A técnica que desenvolvi foi manter a caixa inclinada, vazar um pouco de borracha (fase 1), e depois deixar pôr a caixa na horizontal deixando a acumulação de borracha no fundo "derramar-se" sobre a figura, tipo queijo amanteigado (fase 2). O objectivo é ter uma capa fina de borracha sobre a figura de modo a manter as bolhas de ar controladas.
Depois desta 1ª camada ser limpa de bolhas, pode-se juntar mais uma camada relativamente fina (1/2 a 1mm), limpa-se esta de bolhas, e por fim pode-se verter o resto da borracha.
O essencial aqui é evitar que fiquem agarradas bolhas à figura. Adivinhem como é que eu aprendi! É claro que o ideal seria ter uma câmara de vácuo, mas ninguém tem, acreditem.
As bolhas de ar podem ter duas causas: durante o processo de mistura da borracha - é quase impossível evitá-las, e bolsas de ar devido aos contornos e reentrâncias da figura. Em qualquer caso é necessário muito cuidado, podendo as bolhas que surjam ser picadas com um alfinete.

Cura

A borracha, sendo um polímero, leva um tempo a curar variando conforme as especificações do fabricante. A que eu usava levava 24 horas até poder ser manuseada. Este tempo pode ser agravado com temperaturas frias, podendo até impedir a cura da borracha, de modo que a caixa deve ser mantida num ambiente de temperatura mediana, e ser guardada na horizontal. Portanto nada de experimentar isto a 5000m de altitude!
Outra precaução é não evitar absolutamente a tentação de tocar na borracha durante o processo de cura!!! Para este efeito, guardem o copo onde fizeram a mistura de borracha, não o limpem, e se quiserem experimentar se a borracha está curada ou não, podem tocar na borracha do copo. Mesmo assim se a borracha já estiver sólida, dêem mais umas horitas de repouso à caixa, não vá o diabo tecê-las e haver alguma bolsa menos homogénea.

Remoção da plasticina

Tendo corrido tudo bem, podem desfazer a caixa de legos. Com cuidado separam a plasticina da base, de preferência pela camada de plástico de cozinha que interpuseram, voltam o "tijolo" de borracha e plasticina com a borracha para baixo, e cuidadosamente - sempre! - removem a plasticina de cima da borracha, sem afectar a figura que está por baixo!
O resultado final é uma cama de borracha com uma figura inclusa, bem como alguns palitos e metade do cone de enchimento..

2ª caixa de molde

A seguir pôem esta cama sobre a placa de lego e voltam a construir a caixa à volta com as mesmas dimensões.

Desmoldante

Logo antes da preparação da 2ª metade do molde de borracha, passamos uma camada de desmoldante. Eu uso um spray de desmoldante de silicone próprio, mas bastará óleo de cozinha de baixa viscosidade. O óleo deve cobrir inteiramente a borracha, sem ser em excesso que cubra o detalhe da figura. O objectivo é, como é natural, impedir que a nova camada de borracha possa aderir à anterior, o que resulta num molde estragado.

A 2ª metade do molde

Agora lembrem-se de completar com plasticina o cone de enchimento da figura, ao topo do molde, e podem repetir o processo de vazamento como foi descrito anteriormente.
Ao fim deste processo todo podemos desfazer de novo a caixa, separar cuidadosamente as metades do molde, retiramos a figura, os palitos e a plasticina do cone de enchimento, e a única coisa que falta é terminar os gitos de respiro. Estes podem se abertos a partir da figura para os canais deixados pelos palitos, com um X-Acto MUITO afiado. Abrem-se canais finos com dois cortes em bisel numa superfície de molde só, e já está!
Estes novos respiros devem ser sempre dirigidos para cima, de modo a evitar que haja escorrências de metal.
A partir daqui é só despejar metal derretido para dentro. Mas isso fica para outra ocasião!
Por fim, se se justificar, podem fazer incluir mais que uma figura no molde. Podem colocar várias figuras em paralelo, o que é uma economia de tempo. Podem fazer isto, por exemplo com cavalo e cavaleiro, ou com dois ou três lanceiros em posições diferentes. O critério principal é que o número de figuras que se prevê tirar seja aproximado. Cada figura deve ter o seu cone de enchimento separado.
Para a execução deste artigo tenho a agradecer a contribuição do modelo Magriço, que se sujeitou a ser desenhado nas mais incómodas poses.

Miguel Morão

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