quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Entrevista com Miguel Morão (parte 3)

Depois de algum tempo de ausência, surges agora como presidente da A21, como é que isto acontece? 
Acontece pela razão que fui eleito… E fui eleito porquê? O facto de eu ter estado ausente nestes últimos anos criou em mim um certo distanciamento, um certo afastamento das crispações e dos problemas do passado mais recente. Na verdade, as pessoas que criaram a A21 estavam um tanto desgastadas por um processo de separação da outra associação de onde saíram, que teve contornos não totalmente agradáveis. De modo que a minha pessoa e o meu modo de pensar mais descomprometido com o passado pôde  trazer alguma estabilidade e algum pensamento fora dos moldes habituais. Por outro lado há a vantagem de eu estar livre de contenciosos, de modo que não há qualquer impedimento para seja quem for de qualquer origem poder tratar com o presidente da A21.

A A21 é um projecto pessoal?
Fico um bocado surpreendido com esta pergunta… Por um lado é pessoal, pois que se a A21 é tão pequena, as diferenças de personalidade entre os seus sócios marcam qualquer linha de acção, naturalmente. Por outro lado, não se trata de um projecto pessoal visto que as pessoas que constituem a Almada 21 têm um modo de pensar suficientemente fluido, maduro e desprendido para facilmente aceitar consensos, e até suprir a falta de qualquer dirigente em caso de necessidade. Quanto ao presidente, digo desde já que o cargo estará à disposição nas próximas eleições, e os votos dirão quem é o seguinte. Ninguém está agarrado a cargo nenhum, não há vanglórias.

Na A21 é dada grande ênfase à criação de núcleos/delegações fora da vossa área geográfica, seja no Peru ou no Benelux, a que se deve esse interesse por esta forma diferente de organização?
A Almada 21 tem um nome muito “localista”, mas isso é uma distorção causada pelo processo de registo. Chama-se Almada mas podia chamar-se O Mundo Todo… O que nos interessa não é uma localização geográfica, mas sim uma comunidade de interesses e afinidades pessoais. Temos sócios no Peru, no México, na Argentina, no Porto, no Benelux, na Grande Lisboa, mas trata-se como já disse de pessoas com afinidade pessoal e facilidades técnicas de contacto.
Ora esta dispersão geográfica tem uma implicação: os sócios mais distantes não têm grande facilidade em jogar com o “núcleo central”, chamemos-lhe assim. Então o que fazemos é auxiliar esses sócios mais afastados a constituir os seus núcleos. Fazemo-lo por transmissão de conhecimentos, de experiência do modo de constituir associações de pessoas de modo a que possam ao criar os seus núcleos locais poderem evitar ao menos os tropeções mais óbvios.

Com esta forma de organização a A21 pretende ser hegemónica ou pelo contrário pretende criar condições para o surgimento de novas e diferentes associações.
Se a A21 pretendesse ser hegemónica não teria futuro. É evidente que quem é sócio, está fisicamente afastado e quer formar o seu grupo o pode fazer, e tem todo o apoio possível do “Centro”. Se em altura oportuna esse grupo entender que não tem necessidade de depender da A21 em nada, pois que podemos nós fazer para contrariar? Encaremos isto como uma analogia ao processo das cidades gregas do período clássico, que enviavam colonos para fundar outras cidades mais afastadas. Correndo tudo bem mantinham um laço afectivo à cidade-mãe, mas eram autónomas.

A A21 não cobra qualquer quota aos seus associados, no entanto consegue financiar a participação de equipas suas em actividades, como é que consegue?
Não dispondo de fundos próprios, a A21 depende da boa vontade de outras entidades, quer privadas, quer públicas. O que se passa é que a A21 é uma organização idónea, com boas capacidades de realização, como já está comprovado. Por este motivo,  não encontra impedimento em obter patrocínios para as suas realizações, constituindo a A21 um bom suporte publicitário.

A A21 não cobra qualquer taxa de inscrição para a participação nas suas actividades. Assim sendo porque é que alguém há-de ser sócio da A21?
É muito simples… Mas vamos meter um parêntesis, e dizer que as taxas de inscrição podem não ser obrigatoriamente gratuitas Pode dar-se o caso de falhar um patrocínio, e então não se justifica que a A21 ande a pagar de seu bolso para outros aproveitarem. Acho que é de justiça.
É evidente que sendo as inscrições nas actividades da A21 gratuitas, aparentemente tanto faz ser sócio como não ser. Mas há mais do que isso. Ser sócio da Almada 21 tem outras obrigações e contrapartidas sem ser as financeiras. Existe a obrigação de se dar um contributo positivo para o jogo de guerra, existe a obrigação de manter um certo nível de comportamentos dentro da associação. Muito em resumo, posso dizer que é necessário um certo grau de civilização – o que não é fácil. Todos os sócios existentes da A21 cumprem estes requisitos e o facto de a A21 cobrar quotas do nível que cobra (zero!) dá-nos o direito de ser selectivos na entrada, ao contrário do que é costume em que se paga uma quota mais ou menos alta, o que leva as pessoas a pensar que com isso compraram direitos de origem divina.
Ainda não discutimos isto, mas penso que um bom lema para a Almada 21 poderia ser tirado de Shakespeare: “We few, we happy few, we band of brothers…” (Henry V, acto 4. Vão lá ler que vale a pena!).
O que é que a Almada 21 oferece em troca aos seus sócios? Materialmente oferece pouco, infelizmente. Por outro lado oferece uma garantia de bom convívio, de atmosfera de jogo muito competitiva e exigente, mas descontraída e bem-disposta, coisa rara. Oferece oportunidades de participação e de apoio às iniciativas dos sócios. E agora oferece também um espaço que não estava lá muito previsto, que é uma espécie de chantilly no bolo.

Para terminar, o que pretendes que venha a ser a A21?
A A21 é mais um passo num continuum de amizades que já vêm de trás. Espero que continue com o espírito com que está, e que sirva para espaço de encontro de mais amizades ainda que o futuro venha a trazer.  

Miguel Morão Abril 2003

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