... e o Jogo de Guerra
Qualquer corpo de tropas é constituído por uma combinação de pessoal e armamento de forma organizada. Esta organização surge não por acaso mas sim como reflexo da doutrina do exército a que pertence.
Estas estruturas são normalmente iguais dentro da sua categoria, de modo que se um elemento de pessoal for transferido de uma para outra, facilmente se integrará ao encontrar uma organização igual àquela donde saiu. Não só isso, como os comandantes sabem que dispõem de forças de constituição homogénea, e sabem o que hão-de esperar de cada sub-unidade, e a logística necessita saber quais são as necessidades de cada unidade.
Ora se nós na mesa de jogo tentamos reconstituir os feitos do passado, é bom que sigamos as mesmas estruturas de comando quanto mais não seja para podermos dispor dos mesmos instrumentos que os protótipos. De outro modo assistimos frequentemente na mesa de jogo a espectáculos de tropas completamente desequilibrados, e totalmente desligados da realidade.
Assim sendo, o que é de esperar encontrar numa mesa de jogo são unidades mais ou menos homogéneas e coerentes. O tempo dos "exércitos de carrinho de compras" (2 pelotões de Waffen-SS, com um Jagdtiger, dois Hetzers e um PzIV, tudo comandado por um Panzerorkscharfuhrer) já passou à arqueologia dos jogos de guerra. Mais tarde desenvolveremos o tema.
Em termos muito gerais e referindo-nos ao período da 2a. Guerra Mundial podemos descrever o modo de organização das tropas, esquematizando de baixo para cima.
Assim, diremos que o soldado de infantaria combate dentro de uma Secção. Uma secção era constituído por uma dezena de homens comandados por um sargento (ou patente equivalente). Cada soldado é armado com uma espingarda de repetição, manual ou semi-automática, e a secção dispõe normalmente de uma arma automática colectiva - uma metralhadora ligeira sob várias formas. Tacticamente o sargento divide a secção em duas Esquadras, de Arma Automática e Atiradores, que se apoiam e complementam.
Acima da secção temos o Pelotão, comandado por um oficial de baixa patente (alferes, tenente). O comandante do pelotão, com um pequeno estado-maior constituído sobretudo por pessoal de transmissões (nem que seja um estafeta) comanda 2 a 4 Secções, e por vezes dispõe de uma arma de apoio ligeira, como um ou dois morteiros até 50mm, e eventualmente armamento anti-tanque ligeiro, como armas lança-foguete - bazooka e afins.
Acima do pelotão vem a Companhia. Mais uma vez se mantém o mesmo esquema: um comando, um número de sub-unidades de manobra, e um número menor de sub-unidades de apoio. Aqui falamos de 2 a 4 pelotões de atiradores e um pelotão de armas pesadas, normalmente metralhadoras.
Acima da Companhia vem o Batalhão. O Batalhão é em muitos exércitos a unidade mais baixa capaz de operar independentemente. Assim, o Batalhão vem normalmente equipado com o seu Comando e Serviços, suas sub-unidades de manobra (as companhias) e uma série de sub-unidades de apoio que lhe dão flexibilidade suficiente para fazer frente a vários tipos de ameaça. Deste modo o Batalhão é dotado de meios orgânicos como componentes de engenharia, morteiros, armas anti-tanque, armas anti-aéreas, etc.
E por aí acima, seguindo-se (geralmente) o Regimento ou Brigada, Divisão, Corpo de Exército, Exército, e Grupo de Exércitos. É evidente que há muitas variações nacionais, mas o esquema é mais ou menos este.
Estas estruturas são por norma fixas, o que não impede os comandantes de redistribuírem forças dentro das suas organizações constituindo agrupamentos temporários. Por exemplo, um comandante de companhia se entender necessário ter a flexibilidade de distribuir as metralhadoras do seu pelotão de apoio pelos pelotões de manobra.
Isto que dizer que um comandante pode dispor dos meios sob o seu poder para reforçar as suas unidades. Seguindo o exemplo do parágrafo anterior acima, um comandante de pelotão veria assim a sua unidade reforçada com uma ou duas metralhadoras de maior capacidade de fogo.
Estas estruturas são como disse acima bem determinadas, eventualmente sujeitas a ligeiras variações voluntárias. No entanto não podemos esquecer que em qualquer ocasião e sobretudo em tempo de conflito, todas estas organizações funcionam a efectivos diferentes do previsto, mais concretamente diminuídas. Causas da diminuição? Sobretudo baixas por acção militar (mortos e feridos) e doença. Há que contar também com pessoal destacado para outras unidades e que ainda não regressou, recompletamentos que não chegaram ou que estão em instrução ainda, etc. Enfim, tudo o mais que puder cair sob a alçada da Lei de Murphy. Principalmente afectadas por esta redução de efectivos são as unidades que estão na linha da frente, na trincheira, por assim dizer. A infantaria numa grande unidade é quem sofre o maior número de baixas, de modo que é de esperar que as unidades de infantaria tenham habitualmente as organizações desequilibradas, com as tropas de apoio em relativo bom estado, e com as sub-unidades de atiradores mais ou menos desfalcadas.
Quanto ao equipamento, pode estar também reduzido por um sem-número de razãos: perda em combate, avaria simples, falha do material de tracção - motorizado ou hipomóvel, deficiência do pessoal operador, etc.
Sendo assim não surpreende a sardónica piada do SS-Oberstgruppenführer Sepp Dietrich a propósito da sua unidade: "O meu exército chama-se 6o. Exército Panzer porque tem 6 Panzers"!
Miguel Morão
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